O Escravo de Capela
- Cláudia Eu Leio Sim e Daí
- 23 de jan. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 9 de ago. de 2021
Olá turminha boa de leitura, hoje trago mais uma obra impecável do cineasta e autor Marcos DeBrito.

Esse é o seu terceiro livro que nos brinda com uma das lendas mais conhecidas do nosso folclore o “Saci-Pererê", mas não se engane, nas folhas desse livro não iremos encontrar aquele garoto que fumava cachimbo, pregava peças, dando sustos e fazendo traquinagens de menino pelos cantos. Aqui ele é apresentado antes como um jovem escravizado e depois como um escravo-cadáver que tem o ódio e a vingança como combustível e ao invés de um cachimbo inofensivo ele traz consigo um facão. Também seremos apresentados a uma versão diferente de que conhecemos da “mula-sem-cabeça” que também nada se parece com aquela que nos foi contada, aqui ela surge diferente e totalmente tenebrosa. Essa é uma estória para gente grande.
Sinopse:
Durante a cruel época escravocrata do Brasil Colônia, histórias aterrorizantes baseadas em crenças africanas e portuguesas deram origem a algumas das lendas mais populares de nosso folclore. Com o passar dos séculos, o horror de mitos assustadores foi sendo substituído por versões mais brandas. Em “O Escravo de Capela”, uma de nossas fábulas foi recriada desde a origem. Partindo de registros históricos para reconstruir sua mitologia de forma adulta, o autor criou uma narrativa tenebrosa de vingança com elementos mais reais e perversos. Aqui, o capuz avermelhado, sua marca mais conhecida, é deixado de lado para que o rosto de um escravo-cadáver seja encoberto pelo sudário ensanguentado de sua morte. Uma obra para reencontrar o medo perdido da lenda original e ver ressurgir um mito nacional de forma mais assustadora, em uma trama mórbida repleta de surpresas e reviravoltas.

Esse enredo retrata o final do século XVIII, uma das épocas mais cruéis e sangrentas da história que impunha para homens antes livres em seu país, agora no Brasil em situação de escravidão, tendo sido tirados de suas raízes e colocando-os em total subserviência da elite branca da época.
O ano é 1792, Fazenda de Capela, que tem uma grande lavoura de açúcar, seu dono é o senhor Antonio Bastista da Cunha Vasconcelos e seus dois filhos: o mais velho Antonio Segundo, que era o capataz cruel e impiedoso que tinha como prazer castigar cruelmente os escravos e Inácio, que muito cedo foi estudar na Europa e retorna depois de formado em medicina para o ceio familiar, apesar de não compactuar com as atrocidades que tanto o pai como o irmão faziam com os pobres e infelizes escravos não tinha força para lutar contra o que acontecia ali.
Os dias de maldade e escárnio humano na fazenda corriam no seu ritmo normal e aquele dia não podia ser diferente, apenas a chegada de novos escravos e entre eles o jovem Sabola Citiwala que tinha um espirito alvoroçado e arisco que como todos os novatos não entende o idioma e por não compreender o que foi dito um grande castigo é deferido contra o rapaz e a partir desse momento ele que não aceitava sua atual condição só tem um desejo, fugir daquele lugar. O jovem fortalece sua amizade com um antigo escravo do local, chamado Akili que foi aleijado pelo Antonio Segundo a muitos anos e portanto não tinha movimentos em suas pernas. Ele tentará ajudar o jovem escravo a fugir dali, mas algo dá errado e a partir desse momento todos daquela fazenda vão querer ter morrido antes, pois o mal irá impregnar cada partícula daquele lugar. A barbaridade tão direcionada daquele lugar será o gás para o terror que acontecerá ali, pois o Cavaleiro do inferno, o Justiceiro Além-Túmulo, o Escravo-Cadáver surgirá para castigar os donos da fazenda e quem estivesse ao seu lado.
Esse será o momento da personificação da vingança, todos ouvem aquele assobio agorente e um redemoinho sinistro é formado. O que seria isso?

Cuidado, o ser medonho está chegando e com ele irá arrastar todos para o inferno.
A vingança é um prato que se come frio, mas nesse enredo tem que ser sorvido na temperatura do sangue. No meio de tanto horror um amor primaveril irá tomar forma e desenterrará antigas dores e segredos.
O sangue está presente em cada página. É o horror!
Aqui conheceremos o lado obscuro e pérfido do ser humano.
Comentando...
Uma estória contada em terceira pessoa, muito bem amarrada, onde todos os personagens são bem desenvolvidos. Esse é um livro excelente para quem gosta de uma história sanguinária, cheia de mistérios e deliciosamente mal. Adoro poder saborear um livro que envolve fatos reais e fictícios conseguindo impregnar cada página com um toque cruel. Como sempre Marcos DeBrito foi a fundo em suas pesquisas para poder nos oferecer o que há de melhor em enredos de terror. Gostei bastante da forma mais compacta que ele apresenta o enredo sem muita enrolação indo sempre no ponto direito. A maneira como certas mortes são descritas é maravilhoso, faz com que o leitor sinta a estória mais palpável e o desenrolar foi surpreendente e magistral. Esse enredo é pesado e desumano, mas nos relata as atrocidades cometidas na fazenda Capela, um lugar onde a crueldade de seus donos e empregados marcavam com cólera e sangue seus homens e mulheres escravizados. Adoro ler sobre as lendas e quando me deparo com uma estória adulta tirando de cena a face doce e brincalhona de um ser e colocando como ele deveria ser apresentado fico contagiada.

Uma capa digna de colecionador, muito bem feita e impactante. A diagramação dessa obra é absurdamente maravilhosa, com muito zelo e impecável. A impressão que se dá ao corte das páginas é que temos sangue pingando o tempo todo. Um trabalho meticulosamente bem feito, com uma bela ilustração compondo essa obra.
Parabéns, Marcos por esse trabalho maravilhoso e como sempre muito obrigada, por compartilhar conosco seus enredos. Sou sua fã.


O Escravo de Capela
Autor: Marcos DeBrito
Faro Editorial
Pag. 283
Ano: 2018
ISBN:978-85-62409-89-9
Gênero: Terror brasileiro / Ficção
Revisão: Gabriela de Avila
Preparação: Camila Fernandes e Tuca Faria
Capa e diagramação: Osmane Garcia Filho
Imagens de capa: Andrew Proudlove / Arcangel
Tamanho da Fonte: Boa com espaçamentos adequados.
Recomendo.
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É isso, beijos e tchau!
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